Fanfic

Alice Monnerat
3 min readApr 27, 2021

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Foto de Gabriela Palai no Pexels

Harry acordou atrasado de novo. Levantou correndo, sua mãe já gritava seu nome e esperava com o café da manhã. Estava mal humorado porque havia ficado jogando escondido até tarde na noite anterior. Mas não ousava contrariar sua mãe, então reuniu todas as suas forças e foi enfrentar o dia.

Comeu pão de queijo e tomou leite com achocolatado, como fazia sempre. O pão de queijo da sua mãe era o melhor do mundo e isso já foi suficiente para melhorar um pouco o humor de Harry. Seu pai já havia saído para o trabalho, porque seu escritório ficava em uma cidade vizinha e ele levava quase uma hora para chegar lá.

Harry vivia em uma cidade pequena e tranquila no interior de Minas Gerais, onde cresceu com os pais e sua irmãzinha, que ainda estudava no turno da tarde e por isso podia dormir um pouco mais.

Antes que tivesse terminado de comer, seu amigo e vizinho Felipinho tocou a campainha. Os dois iam juntos para escola todos os dias desde os 10 anos. Agora já tinham 14 e os assuntos no caminho não eram mais jogos e futebol. Bom, a quem estamos enganando? Os assuntos entre os dois ainda eram jogos e futebol

(e provavelmente seriam por muito tempo). Mas Felipinho havia arrumado uma namorada: uma garota da escola chamada Lara. A verdade é que Harry era apaixonado por Lara desde que se lembrava. Uma paixão intensa que doía o coração e dava dores no estômago. Mas Harry nunca teve coragem de se declarar para Lara, nem mesmo no dia que ela chegou na escola e disse que estava lendo o livro que havia inspirado seu nome.

Sim, o nome de Harry vinha de uma série de livros famosa do qual sua mãe era uma grande fã. Ela tinha objetos decorativos da saga por toda a casa e relia todos os livros uma vez por ano junto com seu grupo de leitura. Quando Harry nasceu, ela não teve dúvidas ao escolher o nome. Sua irmã também não tinha escapado e se chamava Luna, homenagem a uma outra personagem. O cachorrinho deles tinha o nome de Canino e no ano passado a mãe havia se endividado para fazer uma viagem para Londres.

Harry ainda não tinha lido os livros que haviam inspirado seu nome, mas sentia que isso fazia toda a diferença. A mãe dizia que ele era o personagem principal e que era justo e corajoso, sempre pronto para lutar pelo que acreditava. Foi nisso que Harry pensou quando enfrentou seu inimigo Matheus, que tentou roubar algumas figurinhas suas há alguns anos atrás. Foi pela força de seu nome que Harry havia tido coragem de se apresentar no show de talentos no ano passado, lendo na frente de toda a escola uma poesia que tinha escrito sobre enfrentar desafios. Desde então, alguns colegas vinham pegando no seu pé, mas ele sempre se lembrava de que, no filme quatro, grande parte de Hogwarts havia torcido contra Harry Potter no Torneio Tribuxo e usado broches com xingamentos e ele, mas o bruxinho não tinha desistido (sim, os filmes ele tinha visto, claro! O que vocês estavam pensando?).

Além de tudo, Harry via em seu nome algo a que se segurar para seguir em frente e enfrentar a vida. Para não desistir da matemática e se esforçar ainda mais em história e ciências, suas matérias favoritas. Para resistir à vontade de virar à noite jogando e dormir no primeiro horário da escola. Para limpar a garagem junto com o pai nos fins de semana e não atrapalhar a mãe nos dias em que ela trabalhava de casa. Seu nome também dava a ele uma centelha de esperança. De que teria um bom futuro. Onde escreveria lindos poemas, beijaria Lara sem deixar de ser amigo de Felipinho e teria dinheiro suficiente para ajudar a mãe a completar sua coleção de bonequinhos cabeçudos! Ele carregava no peito uma certa certeza, ou melhor: uma determinação. De que sempre honraria seus compromissos e lutaria pelos seus sonhos! De que faria o possível para orgulhar sua família. De que seria digno de seu nome: Harry Santos da Silva.

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Alice Monnerat

Professora de geografia. Advogada popular. Fã de Harry Potter. Sempre começando a escrever alguma coisa. Raramente terminando.